A exploração de calcário laminado, em Nova Olinda e Santana do Cariri, responde pela principal atividade econômica dessas cidades e transforma o Cariri num importante polo mineral. São 97 milhões de metros cúbicos do calcário, equivalentes a 241 milhões de toneladas, segundo o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM). Mas, o produto ainda está longe de ser bem aproveitado. O desperdício de material nas minas, onde há maquinário para a retirada e corte do minério e ainda a presença de técnicas rudimentares, pode chegar a até 70%.
FOTO: ALLAN BASTOS |
Há alguns anos, esse rejeito poderia chegar a até 90%, com formas de trabalho mais primitivas. São mais de 2 mil famílias nessas duas localidades que sobrevivem da atividade, além da agricultura de subsistência. A atividade pode render, somente em Nova Olinda, cerca de R$ 12 milhões para a economia local, por ano.
São mais de três décadas de exploração intensa desse mineral, para a formatação de pisos em pedra Cariri e material de revestimento. Na região, em cidades como Nova Olinda, Farias Brito e Altaneira, também há a exploração nas minas de gipsita. Mas, a cidade de Nova Olinda chega a ser líder na exploração desse mineral, com a mina da Chaves Mineração, que possui área desde 1945, segundo o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM).
Os trabalhadores das pedras chegam a obter em torno de um salário mínimo, em condições insalubres de trabalho. Isso quando chegam a uma boa produtividade mensal. A maioria das minas, mesmo com as condições de exploração ainda precárias e o desperdício visível de material, consegue as licenças de atuação. Algumas delas estão em processo de avaliação, para a possível liberação, desde as licenças ambientais às do próprio DNPM, que autoriza o processo de exploração no local.
As licenças também passam por renovação, mesmo numa área em que o fóssil pode ser encontrado a cada palmo de chão. Essa realidade tem sido comprovada por projeto pioneiro que vem sendo desenvolvido desde o ano passado, como o "Jovens Paleontólogos". Mais de 560 fósseis foram encontrados durante o trabalho dos adolescentes do Ensino Médio, que realizam junto ao projeto a conscientização dos operários da pedra Cariri.
O material será doado ao Museu de Paleontologia de Santana do Cariri, que salvaguarda esses achados, com o nome dos doadores que atuam nas cerca de 40 minas visitadas pelos integrantes do projeto, no próximo mês de março. O trabalho foi desenvolvido em minas de Nova Olinda e Santana do Cariri.
Mesmo com a fiscalização de órgãos como o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), que desde os anos 80 tem um escritório no Cariri e atua também na área Centro-Sul do Estado, e órgãos ambientais, como o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMbio) e a Superintendência de Meio Ambiente do Estado do Ceará (Semace), ainda há mineradores que possivelmente podem estar atuando de forma ilegal, segundo próprio o chefe do escritório do DNPM, com sede em Crato, Arthur Andrade.
Essa condição pode se dar por conta da grande área de abrangência dessas minas de calcário na região. "Muitas vezes, essas pessoas deixam para fazer o inverso. Deixam para legalizar a situação quando já estão atuando", diz ele. No entanto, nesses casos, são aplicadas multas e poderão ter a atividade de exploração suspensa.
A atividade de mineração em Nova Olinda e Santana do Cariri é realizada por cerca de mais de 50 microempresas, em cerca de 300 frentes de lavra e serrarias, com máquinas de corte manual para esquadrejamento da pedra. As modalidades de trabalho ainda são muito primitivas para exploração e preparação desse material para o comércio. Somente em Nova Olinda são empregadas cerca de 1.200 pessoas apenas no setor de extração da pedra Cariri e beneficiamento.
O rendimento mensal na cidade é de R$ 800 mil a cada mês, conforme a Cooperativa de Mineração dos Produtores da Pedra Cariri. Nos últimos anos, com a utilização de novos maquinários para o acabamento do material, há um respaldo maior do produto junto ao mercado, segundo o presidente da cooperativa, Beto Jeremias.
Segundo o chefe do DNPM, há uma discussão, junto à Secretaria da Ciência, Tecnologia e Educação Superior do Estado (Secitece), de novas alternativas para aproveitamento do calcário, sem tanto desperdício de material. São novas alternativas, que vêm sendo debatidas com o objetivo de ampliar a cadeia produtiva local.
Mas são poucas as pessoas que estão desenvolvendo novas alternativas atualmente, como o artesanato em pedra Cariri, ainda pouco explorado, apesar dos cursos na área de artesanato, por meio dos Arranjos Produtivos Locais (APLs). Também existem vendas de móveis feitos com a pedra retirada das minas de calcário laminado. O que normalmente chamam de rejeito, são aproveitados na fabricação de cimento.
O material desperdiçado pode ser visto aos montes à beira do asfalto entre as cidades de Nova Olinda e Santana do Cariri. Mesmo com projetos financiados pelo Governo Federal, por meio do Ministério da Integração Nacional (MIN), para compras de máquinas e voltados para o aperfeiçoamento do produto final, que atualmente possui um baixo valor agregado, ainda não se chegou a uma prática cooperativista mais abrangente para possibilitar uma produção qualificada do material.
Segundo o presidente da Cooperativa, Beto Jeremias, a maioria dos mineradores que retira o produto é responsável pela comercialização. A venda acontece para todo o Nordeste, e a qualidade da pedra tem sido fundamental, para ampliar essa comercialização. Ele afirma que chegou a ser exportada, principalmente para Portugal. "Agora, podemos trabalhar com equipamentos que podem cortar a pedra com 100% do esquadro, e com uma só espessura", diz ele, ao comparar o produto às cerâmicas fabricadas e comercializadas no mercado.
Mais informações:
Departamento Nacional de Produção Mineral
DNPM-Museu de Fósseis - Praça da Sé - Centro - Crato - CE
Telefone: (88) 3521.1619
ELIZÂNGELA SANTOS
REPÓRTER
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